tag:blogger.com,1999:blog-16132902374668437062024-03-19T11:05:58.743-07:00LIAN CITA...blog para falar de mim através dos outros. é a minha seleção de poemas, letras de música, versos, frases.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.comBlogger30125tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-62848841921689929702009-04-25T17:23:00.000-07:002009-04-25T17:29:44.085-07:00Eu despedi o meu patrãoZeca Baleiro<br /><br /><br />Eu despedi o meu patrão<br />Desde o meu primeiro emprego<br />Trabalho eu não quero não<br />Eu pago pelo meu sossego.<br /><br />Ele roubava o que eu mais valia<br />E eu não gosto de ladrão<br />Ninguém pode pagar<br />Nem pela vida mais vazia (vadia)<br />Eu despedi o meu patrão.<br /><br />Não acreditem<br />No primeiro mundo<br />Só acreditem<br />No seu próprio mundo.<br />É o verdadeiro<br />Primeiro mundo então!<br /><br />Mande embora<br />Mande embora agora<br />O seu patrão.<br />Ele não pode pagar<br />O preço que vale<br />A tua pobre vida<br />Oh Meu irmão!<br /><br />(Neste mundo é mais rico o que mais rapa:<br />Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;<br />Quem menos falar pode, mais increpa:<br />Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.)<br /><br />Eu despedi o meu patrão!Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-6559330570330478542009-03-13T20:02:00.000-07:002009-03-13T20:04:03.175-07:00O anjo mais velho(O Teatro Mágico)<br /><br />"O dia mente a cor da noite<br />E o diamante a cor dos olhos<br />Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"<br /><br />Enquanto houver você do outro lado<br />Aqui do outro eu consigo me orientar<br />A cena repete, a cena se inverte<br />Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar<br /><br />Tua palavra, tua história<br />Tua verdade fazendo escola<br />E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar<br /><br />Metade de mim<br />Agora é assim<br />De um lado a poesia, o verbo, a saudade<br />Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim<br /><br />E o fim é belo incerto... depende de como você vê<br />O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só<br />Só enquanto eu respirar<br />Vou me lembrar de você<br />Só enquanto eu respirar.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-62798519910211933312009-01-02T15:22:00.000-08:002009-01-02T15:24:02.285-08:00Essas meninasTexto do Drummond que li na época do vestibular e me abalou muito. Finalmente, com as facilidades da internet, consegui reencontrá-lo:<br /><br /><br /><br />"As alegres meninas que passam na rua, suas pastas escolares, às vezes com seusnamorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas coisas sem importância. O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado. Riem sem motivo: riem... Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância. Faltava uma delas. O jornal dera notícias do crime. O corpo da menina encontrado naquelas condições, em lugar ermo. A selvageria de um tempo que não deixa mais rir. As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora pra outra; essas mulheres."Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-88115442614225261002008-09-07T08:26:00.000-07:002008-09-07T08:31:04.305-07:00Vandalismo(Augusto dos Anjos)<br /><br />Meu coração tem catedrais imensas,<br />Templos de priscas e longínquas datas,<br />Onde um nume de amor, em serenatas,<br />Canta a aleluia virginal das crenças.<br /><br />Na ogiva fúlgida e nas colunatas<br />Vertem lustrais irradiações intensas<br />Cintilações de lâmpadas suspensas<br />E as ametistas e os florões e as pratas.<br /><br />Com os velhos Templários medievais<br />Entrei um dia nessas catedrais<br />E nesses templos claros e risonhos.<br /><br />E erguendo os gládios e brandindo as hastas,<br />No desespero dos iconoclastas<br />Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-26613842977073926212008-06-19T06:07:00.000-07:002008-06-19T06:11:45.328-07:00Eu não sei na verdade quem eu sou(O Teatro Mágico)<br /><br /><br />Eu não sei na verdade quem eu sou,<br />Já tentei calcular o meu valor,<br />Mas sempre encontro sorriso<br />E o meu paraíso é onde estou...<br />Por que a gente é desse jeito<br />Criando conceito pra tudo que restou?<br /><br />Meninas são bruxas e fadas,<br />Palhaço é um homem todo pintado de piadas!<br />Céu azul é o telhado do mundo inteiro,<br />Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!<br /><br />Mas eu não sei na verdade quem eu sou!<br />Já tentei calcular o meu valor.<br />E sempre encontro o sorriso<br />E o meu paraíso é onde estou<br />Eu não sei na verdade quem eu sou!<br /><br />Perguntar de onde veio a vida,<br />Por onde entrei deve haver uma saída<br />E tudo fica sustentado pela fé!<br />Na verdade ninguém sabe o que é!<br /><br />Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!<br />Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento!<br />Escola é onde a gente aprende palavrão...<br />Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!<br /><br />Mas eu não sei na verdade quem eu sou.<br />Já tentei calcular o meu valor,<br />E sempre encontro o sorriso e o meu paraíso é onde estou!<br />Eu não sei na verdade quem eu sou!<br /><br />Percebi que a cada minuto<br />Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto<br />Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença<br />Tem gente trepando no escuro, tem gente sentindo ausência!<br /><br />Meninas são bruxas e fadas,<br />Palhaço é um homem todo pintado de piadas!<br />Céu azul é o telhado do mundo inteiro,<br />Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!<br /><br />Eu não sei na verdade quem eu sou,<br />Já tentei calcular o meu valor,<br />Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...<br />Eu não sei na verdade quem eu sou.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-13142560215459898582008-05-14T20:11:00.000-07:002008-05-14T20:13:49.638-07:00Cuida de mimTeatro Mágico<br /><br />Pra falar verdade, às vezes minto<br />Tentando ser metade do inteiro que eu sinto<br />Pra dizer as vezes que às vezes não digo<br />Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo<br />Tanto faz não satisfaz o que preciso<br />Além do mais, quem busca nunca é indeciso<br />Eu busquei quem sou;<br />Você, pra mim, mostrou<br />Que eu não sou sozinho nesse mundo.<br /><br />Cuida de mim enquanto não esqueço de você<br />Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.<br />Cuida de mim enquanto não me esqueço de você<br />Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo.<br /><br />Basta as penas que eu mesmo sinto de mim<br />Junto todas, crio asas, viro querubim<br />Sou da cor, do tom, sabor e som que quiser ouvir<br />Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir<br />Quero mais, quero a paz que me prometeu<br />Volto atrás, se voltar atrás assim como eu.<br /><br />Busquei quem sou<br />Voce, pra mim, mostrou<br />Que eu não estou sozinho nesse mundo.<br /><br />Cuida de mim enquanto não esqueço de você<br />Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.<br />Cuida de mim enquanto não me esqueço de você<br />Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-67237218752739854552008-05-10T08:02:00.000-07:002008-05-10T08:04:21.190-07:00O amor é filmeCordel do Fogo Encantado<br /><br /><br />O amor é filme<br />Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama<br />Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica<br />Dá felicidade, dá dúvida, dor de barriga<br />É drama, aventura, mentira, comédia romântica<br /><br />O amor é filme<br />Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama<br />Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica<br />Dá felicidade, dá dúvida, dor de barriga<br />É drama, aventura, mentira, comédia romântica<br /><br />Um belo dia a a gente acorda e hum...<br />Um filme passou por a gente e parece que já se anunciou o episódio dois<br />É quando a gente sente o amor se abuletar na gente tudo acabou bem,<br />Agora o que vem depois<br /><br />O amor é filme<br />Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama<br />Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica<br />Da felicidade, da dúvida, dor de barriga<br />É drama, aventura, mentira, comédia romântica<br /><br />É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos<br />E o mundo todo vira nós dois,<br />Dois corações bandidos<br />Enquanto uma canção de amor persegue o sentimento<br />O Zoom in dá ré e sobem os créditos<br /><br />O amor é filme e Deus espectador!<br /><br />"- A gente devia ser como o pessoal do filme, poder cortar as partes chatas da vida, poder evitar os acontecimentos!Num é?!?!"Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-69279030262214775852008-05-09T15:36:00.000-07:002008-05-09T15:40:57.376-07:00DesejoVitor Hugo<br /><br /><br /> Desejo primeiro que você ame,<br />E que amando, também seja amado.<br />E que se não for, seja breve em esquecer.<br />E que esquecendo, não guarde mágoa.<br />Desejo, pois, que não seja assim,<br />Mas se for, saiba ser sem desesperar. <br /><br />Desejo também que tenha amigos,<br />Que mesmo maus e inconseqüentes,<br />Sejam corajosos e fiéis,<br />E que pelo menos num deles<br />Você possa confiar sem duvidar.<br />E, porque a vida é assim,<br />Desejo ainda que você tenha inimigos.<br />Nem muitos, nem poucos,<br />Mas na medida exata para que, algumas vezes,<br />Você se interpele a respeito<br />De suas próprias certezas.<br />E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,<br />Para que você não se sinta demasiado seguro.<br /><br />Desejo depois que você seja útil,<br />Mas não insubstituível.<br />E que nos maus momentos,<br />Quando não restar mais nada,<br />Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. <br /><br />Desejo ainda que você seja tolerante,<br />Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,<br />Mas com os que erram muito e irremediavelmente,<br />E que fazendo bom uso dessa tolerância,<br />Você sirva de exemplo aos outros. <br /><br />Desejo que você, sendo jovem,<br />Não amadureça depressa demais,<br />E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer<br />E que sendo velho, não se dedique ao desespero.<br />Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e<br />É preciso deixar que eles escorram por entre nós. <br /><br />Desejo por sinal que você seja triste,<br />Não o ano todo, mas apenas um dia.<br />Mas que nesse dia descubra<br />Que o riso diário é bom,<br />O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.<br /><br />Desejo que você descubra,<br />Com o máximo de urgência,<br />Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,<br />Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.<br /><br />Desejo ainda que você afague um gato,<br />Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro<br />Erguer triunfante o seu canto matinal<br />Porque, assim, você se sentirá bem por nada.<br />Desejo também que você plante uma semente,<br />Por mais minúscula que seja,<br />E acompanhe o seu crescimento,<br />Para que você saiba de quantas<br />Muitas vidas é feita uma árvore.<br /><br />Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,<br />Porque é preciso ser prático.<br />E que pelo menos uma vez por ano<br />Coloque um pouco dele<br />Na sua frente e diga "Isso é meu",<br />Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.<br /><br />Desejo também que nenhum de seus afetos morra,<br />Por ele e por você,<br />Mas que se morrer, você possa chorar<br />Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.<br /><br />Desejo por fim que você sendo homem,<br />Tenha uma boa mulher,<br />E que sendo mulher,<br />Tenha um bom homem<br />E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,<br />E quando estiverem exaustos e sorridentes,<br />Ainda haja amor para recomeçar.<br /><br />E se tudo isso acontecer,<br />Não tenho mais nada a te desejar.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-83184345818257154942008-04-07T20:14:00.000-07:002008-04-07T20:16:45.173-07:00Mais AdéliaCOM LICENÇA POÉTICA<br /><br /><br />Quando nasci um anjo esbelto,<br />desses que tocam trombeta, anunciou:<br />vai carregar bandeira.<br />Cargo muito pesado pra mulher,<br />esta espécie ainda envergonhada.<br />Aceito os subterfúgios que me cabem,<br />sem precisar mentir.<br />Não sou tão feia que não possa casar,<br /> acho o Rio de Janeiro uma beleza e<br />ora sim, ora não, creio em parto sem dor.<br />Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.<br />Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.<br />Minha tristeza não tem pedigree,<br />já a minha vontade da alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.<br />Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.<br />Mulher é desdobrável.<br />Eu sou.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-16418724660577418352008-03-29T22:19:00.000-07:002008-03-29T22:22:20.961-07:00Dobrada à moda do PortoÁlvaro de Campos (meu heterônimo preferido do Pessoa)<br /><br />Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,<br />Serviram-me o amor como dobrada fria.<br />Disse delicadamente ao missionário da cozinha<br />Que preferia quente,<br />Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.<br /><br /><br />Impacientaram-se comigo.<br />Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.<br />Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,<br />E vim passear para toda a rua.<br /><br />Quem sabe o que isto quer dizer?<br />Eu não sei, e foi comigo...<br /><br /><br />(Sei muito bem que na minha infância de toda a gente houve um jardim,<br />Particular ou público, ou do vizinho.<br />Sei muito bem que brincarmos era o dono dele<br />E que a tristeza é de hoje).<br /><br /><br />Sei isso muitas vezes,<br />Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram<br />Dobrada à moda do Porto fria?<br />Não é prato que se possa comer frio,<br />Mas trouxeram-mo frio.<br />Não me queixei, mas estava frio,<br />Nunca se pode comer frio, mas veio frio.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-62961276475410157692008-03-03T19:08:00.000-08:002008-03-03T19:11:08.047-08:00Adélia PradoVelhice<br />é um modo de sentir frio que me assalta<br />e uma certa acidez.<br />O modo de um cachorro enrodilhar-se<br />quando a casa se apaga e as pessoas se deitam.<br />Divido o dia em três partes:<br />a primeira pra olhar retratos,<br />a segunda pra olhar espelhos,<br />a última e maior delas, pra chorar.<br />Eu, que fui loura e lírica,<br />não estou pictural.<br />Peço a Deus,<br />em socorro da minha fraqueza,<br />abrevie esses dias e me conceda um rosto<br />de velha mãe cansada, de avó boa,<br />não me importo. Aspiro mesmo<br />com impaciência e dor.<br />Porque sempre há quem diga<br />no meio da minha alegria:<br />"põe o agasalho"<br />"tens coragem?"<br />"por que não vais de óculos?"<br /> Mesmo rosa sequíssima e seu perfume de pó,<br />quero o que desse modo é doce,<br />o que de mim diga: assim é.<br />Pra eu parar de temer e posar pra um retrato,<br />ganhar uma poesia em pergaminho.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-36580077776724454532008-02-20T21:48:00.000-08:002008-02-20T22:04:50.179-08:00Dos tempos da faculdade...Aquela música que lembra muito Maria Cristina, Georgia, saraus da faculdade... Saudades!<br /><br /><span style="font-family:georgia;font-size:130%;color:#cc66cc;">Minha casa</span><br /><span style="font-size:78%;color:#66cccc;">(Zeca Baleiro)</span><br /><span style="color:#66cccc;"></span><br /><span style="color:#66cccc;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">É mais fácil cultuar os mortos que os vivos</span><br /><span style="color:#9999ff;">Mais fácil viver de sombras que de sóis</span><br /><span style="color:#9999ff;">É mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Não quero ser triste</span><br /><span style="color:#9999ff;">Como o poeta que envelhece lendo Maiakovski na loja de conveniência</span><br /><span style="color:#9999ff;">Não quero ser alegre</span><br /><span style="color:#9999ff;">Como o cão que sai a passear com o seu dono alegre sob o sol de domingo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Nem quero ser estanque</span><br /><span style="color:#9999ff;">Como quem constrói estradas e não anda</span><br /><span style="color:#9999ff;">Quero no escuro</span><br /><span style="color:#9999ff;">Como um cego tatear estrelas distraídas.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Amoras silvestres no passeio público</span><br /><span style="color:#9999ff;">Amores secretos debaixo dos guarda-chuvas</span><br /><span style="color:#9999ff;">Tempestades que não param</span><br /><span style="color:#9999ff;">Pára-raios quem não tem</span><br /><span style="color:#9999ff;">Mesmo que não venha o trem</span><br /><span style="color:#9999ff;">Não posso parar.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Vejo o mundo passar </span><br /><span style="color:#9999ff;">Como passa uma escola de samba que atravessa</span><br /><span style="color:#9999ff;">Pergunto onde estão seus tamborins</span><br /><span style="color:#9999ff;">Pergunto onde estão seus tamborins</span><br /><span style="color:#9999ff;">Sentado na porta de minha casa</span><br /><span style="color:#9999ff;">Na mesma e única casa</span><br /><span style="color:#9999ff;">A casa onde eu sempre morei.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#000000;">Empolguei e vou postar outra do Zeca Baleiro...</span><br /><br /><br /><span style="font-size:130%;color:#cc33cc;">Bandeira</span><br /><span style="font-size:130%;color:#cc33cc;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero ver você cuspindo ódio</span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero ver você fumando ópio</span><br /><span style="color:#9999ff;">Pra sarar a dor.</span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero ver você chorar veneno</span><br /><span style="color:#9999ff;">Não quero beber do seu café pequeno</span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero isso, seja lá o que isso for.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero aquele, </span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero aquilo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Peixe na boca do crocodilo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Braço da Vênus de Milo acenando tchau.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Não quero medir a altura do tombo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Nem passar agosto esperando setembro</span><br /><span style="color:#9999ff;">Se bem me lembro</span><br /><span style="color:#9999ff;">O melhor futuro é este hoje escuro</span><br /><span style="color:#9999ff;">O maior desejo da boca é o beijo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Eu não quero ter o Tejo me escorrendo das mãos.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Quero a Guanabara</span><br /><span style="color:#9999ff;">Quero o Rio Nilo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Quero tudo ter</span><br /><span style="color:#9999ff;">Estrela, flor, estilo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Tua língua em meu mamilo, água e sal.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Nada tenho, vez em quando tudo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Tudo quero, mais ou menos quanto</span><br /><span style="color:#9999ff;">Vida, vida,</span><br /><span style="color:#9999ff;">Noves fora zero</span><br /><span style="color:#9999ff;">Quero viver, quero ouvir, quero ver.</span><br /><span style="color:#9999ff;"></span><br /><span style="color:#9999ff;">Nada tenho, vez em quando tudo</span><br /><span style="color:#9999ff;">Tudo quero, mais ou menos quanto</span><br /><span style="color:#9999ff;">Vida, vida,</span><br /><span style="color:#9999ff;">Noves fora zero.</span><br /><span style="color:#9999ff;">Se é assim, quero sim.</span><br /><span style="color:#9999ff;">Acho que vim pra te ver.</span>Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-7258015149880461082008-02-17T16:46:00.000-08:002008-02-17T16:55:33.658-08:00ConfissãoCecília Meireles<br /><br />Na quermesse da miséria,<br />fiz tudo o que não devia:<br />se os outros se riam, ficava séria;<br />se ficavam sérios, me ria.<br /><br />(Talvez o mundo nascesse certo;<br />mas depois ficou errado.<br />Nem longe nem perto se encontra o culpado!)<br /><br /><strong>De tanto querer ser boa, </strong><br /><strong>misturei o céu com a terra, </strong><br /><strong>e por uma coisa à toa </strong><br /><strong>levei meus anjos à guerra. </strong><br /><br />Aos mudos de nascimento<br />fui perguntar minha sorte.<br />E dei minha vida, momento a momento,<br /> por coisas da morte.<br /><br />Pus caleidoscópio de estrêlas,<br />entre cegos de ambas as vistas.<br />Geometrias imprevistas,<br />quem se inclinou para vê-las?<br /><br /> (Talvez o mundo nascesse certo;<br />mas evadiu-se o culpado.<br />Deixo meu coração - aberto,<br />à porta do céu - fechado.)Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-53308110725277654412008-02-14T09:07:00.000-08:002008-02-14T09:09:14.827-08:00SonheiLenine<br /><br /><br />Sonhei e fui, sinais de sim,<br />Amor sem fim, céu de capim,<br />E eu olhando a vida olhar pra mim.<br /><br />Sonhei e fui, mar de cristal,<br />Sol, água e sal, meu ancestral,<br />E eu tão singular me vi plural.<br /><br />Sonhei e fui, num sonho à toa,<br />Uma leoa, água de Goa,<br />E eu rogando ao tempo: - Me perdoa<br />E eu rogando ao tempo: - Me perdoa<br /><br />Sonhei pra mim, tanta paixão,<br />De grão em grão, verso e canção,<br />E eu tentando nunca ouvir em vão.<br /><br />Sonhei, senti, sol na lagoa,<br />Céu de Lisboa, nuvem que voa,<br />E um país maior que uma pessoa.<br /><br />Sonhei e vim, mares de Espanha,<br />Terras estranhas, lendas tamanhas,<br />E eu subi sorrindo esta montanha.<br />E eu subi sorrindo esta montanha.<br /><br />Sonhei, enfim, e vejo agora,<br />Beijo de Aurora, ventos lá fora,<br />E eu cantando a Deus e indo embora.<br />E eu cantando a Deus e indo embora.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-49048925654146978962008-02-13T05:12:00.000-08:002008-02-13T05:14:25.471-08:00DespedidaRubem Braga<br /><br /><br />E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.<br /><br />Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?<br /><br />Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-75820840388517136882008-01-13T17:09:00.000-08:002008-01-13T17:24:37.205-08:00A inutilidade da infânciade Rubem Alves<br /><br /><br />O pai orgulhoso e sólido olha para o filho saudável e imagina o futuro.<br /><br />- Que é que você vai ser quando crescer?<br /><br />Pergunta inevitável, necessária, previdente, que ninguém questiona.<br /><br />- Ah, quando eu crescer, acho que vou ser médico!<br /><br />A profissão não importa muito, desde que ela pertença ao rol dos rótulos respeitáveis que um pai gostaria de ver colados ao nome do seu filho ( e ao seu, obviamente )... Engenheiro, diplomata, advogado, cientista...<br /><br />Imagino um outro pai, diferente, que não pode fzaer perguntas sobre o futuro. Pai para quem o filho não é uma entidade que "vai ser quando crescer", mas que simplesmente é, por enquanto... É que ele está muito doente, provavelmente não chegará a crescer e, por isso mesmo, não vai ser médico, nem mecânico, nem ascensorista.<br /><br />Que é que seu pai lhe diz? Penso que o pai, esquecido de todos "os futuros possíveis e gloriosos" e dolorosamente consciente da presença física, corporal, da criança, aproxima-se dela com toda a ternura e lhe diz: "Se tudo correr bem, iremos ao jardim zoológico no próximo domingo..."<br /><br />É, são duas maneiras de se pensar a vida de uma criança. São duas maneiras de se pensar aquilo que fazemos com uma criança.<br /><br />Eu me lembro de uma daquelas propagandas curtinhas que se fizeram na televisão, por ocasião do ano da criança deficiente, para provar que ainda havia alguma esperança, para dizer que alguma coisa estava sendo feita. E apareciam lá, na tela, as crianças e adolescentes, cada uma excepcional a seu modo, desde Síndrome de Down até cegueira, e aquilo que nós estávamos fazendo com eles... Ensinando, com muito amor, muita paciência. E tudo ia bem, até que aparecia o ideólogo da educação dos excepcionais para explicar que, daquela forma, esperava-se que as crianças viessem a ser <em>úteis</em>, socialmente... E fiquei a me perguntar se não havia uma pessoa sequer que dissesse coisa diferente, que aquelas escolas não eram para transformar cegos em fazedores de vassouras, nem para automatizar os mongolóides para que apredndessem a pregar botões sem fazer confusão... Será que é isto? Sou o que faço? Ali estavam crianças excepcionais, não-seres que virariam seres sociais e receberiam o reconhecimento público se, e somente se, fossem transformados em meios de produção. Não encontrei nem um só que dissesse: "Através desta coisa toda que estamos fazendo esperamos que as crianças sejam felizes, dêem muitas risadas, descubram que a vida é boa... Mesmo um excepcional pode ser feliz. Se uma borboleta, se um pardal e se uma ignorada rãzinha podem encontrar alegria na vida, por que não estas crianças, só porque nasecram um pouco diferentes...?"Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-57902239444858045332008-01-13T06:59:00.000-08:002008-01-13T07:00:54.140-08:00GonzaguinhaHá muito tempo que eu saí de casa<br />Há muito tempo que eu caí na estrada<br />Há muito tempo que eu estou na vida<br />Foi assim que eu quis<br />Assim eu sou feliz<br /><br />Principalmente por poder voltar<br />A todos os lugares onde já cheguei<br />Pois lá deixei um prato de comida<br />Um abraço amigo, um canto pra dormir e sonhar<br /><br />E aprendi que se depende sempre<br />De tanta, muita, diferente gente<br />Toda pessoa, sempre é as marcas<br />Das lições diárias<br />De outras tantas pessoas<br /><br />E é tão bonito quando a gente entende<br />Que a gente é tanta gente<br />Onde quer que a gente vá<br /><br />E é tão bonito quando a gente sente<br />Que nunca está sozinho<br />Por mais que tente estar<br /><br />É tão bonito quando a gente pisa firme<br />Nessas linhas que estão<br />Na palma de nossas mãos<br /><br />E é tão bonito quando a gente vai a vida<br />Nos caminhos onde bate<br />Bem mais forte, o coração.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-30044076055748116532007-12-28T12:16:00.000-08:002007-12-28T12:20:22.615-08:00BilheteMúsica de Ivan Lins, que, para mim, é a que melhor fala sobre separação.<br /><br />Quebrei o teu prato<br />Tranquei o meu quarto<br />Bebi teu licor.<br />Arrumei a sala<br />Já fiz tua mala<br />Pus no corredor.<br /><br /><strong>Eu limpei minha vida </strong><br /><strong>Te tirei do meu corpo</strong><br /><strong>Te tirei das entranhas</strong><br /><strong>Fiz um tipo de aborto</strong><br /><strong>E por fim nosso caso acabou </strong><br /><strong>Está morto.</strong><br /><br />Jogue a cópia da chave<br />Por debaixo da porta<br />Que é pra não ter motivo<br />De pensar numa volta<br />Fique junto dos teus<br />Boa sorte e adeus.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-45921921382656858742007-12-17T19:34:00.000-08:002007-12-17T19:37:12.584-08:00Metade(Oswaldo Montenegro)<br /><br /><br />Que a força do medo que tenho<br />Não me impeça de ver o que anseio<br />Que a morte de tudo em que acredito<br />Não me tape os ouvidos e a boca<br />Porque metade de mim é o que eu grito<br />Mas a outra metade é silêncio.<br /><br />Que a música que ouço ao longe<br />Seja linda ainda que tristeza<br />Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada<br />Mesmo que distante<br />Porque metade de mim é partida<br />Mas a outra metade é saudade.<br /><br />Que as palavras que falo<br />Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor<br />Apenas respeitadas<br />Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento<br />Porque metade de mim é o que ouço<br />Mas a outra metade é o que calo.<br /><br />Que essa minha vontade de ir embora<br />Se transforme na calma e na paz que eu mereço<br />E que essa tensão que me corrói por dentro<br />Seja um dia recompensada<br />Porque metade de mim é o que penso<br />E a outra metade um vulcão.<br /><br />Que o medo da solidão se afaste<br />E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável<br />Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância<br />Porque metade de mim é a lembrança do que fui<br />E a outra metade não sei.<br /><br />Que não seja preciso mais que uma simples alegria<br />Pra me fazer aquietar o espírito<br />E que o teu silêncio me fale cada vez mais<br />Porque metade de mim é abrigo<br />Mas a outra metade é cansaço.<br /><br />Que a arte nos aponte uma resposta<br />Mesmo que ela não saiba<br />E que ninguém a tente complicar<br />Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer<br />Porque metade de mim é platéia<br />E a outra metade é a canção.<br /><br />E que a minha loucura seja perdoada<br />Porque metade de mim é amor<br />E a outra metade também.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-38007976636673267752007-12-15T17:33:00.000-08:002007-12-15T17:48:23.145-08:00Pablo NerudaNem tenho a ilusão de que alguém tenha paciência pra ler este poema inteiro. Mas como eu o amo, nunca o encontro e acabei de achá-lo em um disquete que logo não funcionará, é minha oportunidade de arquivá-lo.<br /><br /><br />O CÓRREGO E A FLOR<br /><br />I<br /><br />Um pouco do meu sangue<br />Escorre nas linhas firmes<br />Da tristeza sem igual,<br />Uma tristeza manchada,<br />Mas brilhante.<br /><br />Aqui é o lugar onde<br />O passado se move<br />Com passos derretendo<br />Em poças de espelho<br />Trazendo a história de um amor<br />Insensato, como as esperanças<br />Existentes nas pupilas<br />Dos cães danados.<br /><br />Desço no porão da morte<br />E o tapete de insetos azuis<br />Acaricia meus pés sujos.<br />O manto de sombra<br />Cobre meu corpo<br />Como o frio dos caixões.<br /><br />São os dias em migalhas<br />Diante das lembranças<br />Do teu corpo.<br />Teu hálito entregue como<br />Doação à minha alma,<br />Recendendo esperança<br />Em cânticos eternos.<br /><br />II<br /><br />Te encontro dentro da esfera<br />E firmo-me em tua ausência<br />Sinto o pulo covarde<br />Do meu coração perdido<br />Por saber que tua mão<br />Não cabia dentro das minhas.<br /><br />Dor dentro da dor,<br />E era apenas você,<br />Mas eu morri demais<br />Para encontrá-la.<br /><br />Este cadáver que adere<br />Sobre os pêlos do peito<br />E faz-me lembrar do<br />Vento caminhando vacilante<br />E trazendo no dorso<br />As tristezas do brilho escuro<br />De todas estações.<br /><br />Já gastei todas minhas vidas<br />No avesso dos dias,<br />E tenho, agora, os ásperos<br />Anúncios da tua voz<br />Amaldiçoando-me pela<br />Débil luz que chega<br />Da estrela morta.<br />Mas tenho fé no amor<br />Que une os humilhados<br />Mendigos do amor.<br /><br />Já gastei todas minhas vidas<br />No avesso dos dias,<br />E tenho, agora, os ásperos<br />Anúncios da tua voz<br />Amaldiçoando-me pela<br />Débil luz que chega<br />Da estrela morta.<br />Mas tenho fé no amor<br />Que une os humilhados<br />Mendigos do amor.<br /><br />III<br /><br />São pedaços que exalam<br />Ilusões petrificadas<br />Em ilusões.<br />Meus antepassados mexem<br />Nas tumbas e erguem para<br />Caminharem através dos corredores<br />Dos ventos presos à escuridão.<br /><br />Minha amada, tu desfaleces,<br />E não posso te conter,<br />Pois meus braços, embora fortes,<br />Estão rígidos pela geadaDe sonhos loucos.<br /><br />Sofro demais e trago as manhãs<br />Da minha adolescência<br />Em que dei às outras mulheres<br />O que sempre foi teu.<br />E o mais doloroso não foi<br />A entrega da carne,<br />Mas das ilusões que seriamVerdadeiras junto a ti.<br /><br />IV<br /><br />A luta é amar, amar até<br />Desamar. . .<br />Amar tudo e todos.<br />Aproximar o ódio do amor,<br />E assim viver abundantemente.<br /><br />A chuva quando cai<br />Transforma-se em flores<br />E, depois, em lâminas para ceifar<br />As mesmas flores.<br /><br />Nossos filhos choram<br />Por perceberem que<br />Sentimos fome de<br />Palavras de relâmpagos.<br />Que a carência do toque<br />Lírico nos faz ser grandes<br />De abandono e solidão<br />Devido à lembrança<br />Do morto sonho.<br /><br />V<br /><br />Sei que a vingança<br />Paira sobre os campos<br />De violetas.<br />Sei que a vingança<br />Paira no fruto<br />Bicado pelos pássaros<br />De asas de fogo.<br />Sei que a vingança<br />Está em teu olhar e<br />Se dará através das invocações<br />Poderosas, inspiradas<br />Pelas feiticeiras que habitam<br />O estômago das matas virgens.<br /><br />Mas o momento se aproxima<br />E te amo!<br />Pois sei que a vingança<br />É tua forma de aproximar<br />O ódio do amor.<br /><br />Tudo sendo engolido<br />Como as distâncias.<br />Sou ruína e ninguém<br />Atreve-se a remover as<br />Pedras, os utensílios e os<br />Soterrados corpos<br />Esmagados que espantam<br />As aves de rapinas.<br /><br />VI<br /><br />Às vezes sinto o galopar<br />Do futuro na tua respiração<br />A quilômetros de distâncias e<br />Na saliva que tua língua traz<br />E entrega ao meu paladar.<br />O futuro certo que se fez<br />No incerto passado.<br /><br />Ah amada, quero dar-lhe<br />Meu sonho em sacrifício,<br />Dizer que não a tenho mais,<br />E ver que tudo naufragou.<br />E as asas da minha alma<br />Foram decepadas e entregues<br />Aos pássaros negros.<br />É chegada a hora... e o tempo<br />Terminou... e continuará sempre.<br /><br />As águas na superfície<br />São agitadas, mas nas profundezas<br />Há uma população de silêncio.<br />Quando solta-se o rugido de ira<br />O peito se esvazia, emudece<br />O interior do ser sofrido.<br /><br />Sou vazio, sou transbordante.<br />Sou dor, sou alegria incontida.<br />Meus joelhos dobram-se,<br />Mas os braços estão erguidos<br />Em busca do infinito.<br /><br />VII<br /><br />Não quero ser tomado pelo sono<br />Quero meus olhos como janelas<br />Abertas para as formas,<br />Cheiros, texturas e sabores.<br /><br />Mas também quero receber<br />A noite, quando vier,<br />Abraçando seu corpo suave e<br />Quente e encontrando minha face<br />Em sua face fria.<br />Entregar-me em seus sonhos<br />Ardentes, descer através de suas<br />Escadas escorregadias<br />Que trazem as sombras... Ah, doce noite dos mortos!<br /><br />Sombras que são seres<br />Com corpos remendados,<br />Implorando quem queira<br />Receber seus sentimentos em<br />Estado de putrefação.<br /><br />A liberdade para partida<br />É desistir desse fardo de sentimentos<br />Que contém esses fragmentos<br />Mortos que causam sofrimentos.<br /><br />Temos que enterrar nossos mortos<br />Esquecê-los sob a terra<br />E cultivar um jardim de rosas<br />Brancas, vermelhas e lilases,<br />E, num canto maior, semear<br />Sementes de trigoPara transformar carne em pão.<br /><br />VIII<br /><br />Naquela morada do passado<br />Onde o sol luarento<br />Dissolvia os telhados de cristais,<br />A muralha de montanhas<br />Oferecia a névoa aos olhos.<br /><br />Só isso posso,<br />Como aquelas montanhas,<br />Te oferecer: - névoa!!!<br />Porque sou incorpóreo.<br />Poderei apenas lhe pagar minha<br />Dívida em sonho, em cantiga,<br />Em estrela, em amor.<br />Ou em amanhecer ou anoitecer.<br />Nada mais posso oferecer.<br /><br />Talvez sejam os últimos versos<br />De névoa que arranco do<br />Meu ventre através da porta<br />Do peito, porque é toda canção<br />Que sei entoar!<br /><br />É um canto em corpo<br />Que existe na ausência<br />Contida no sopro do vento,<br />Que desvirgina as árvores<br />Em sua primeira floração.<br /><br />IX<br /><br />Surge tua forma na noite<br />Em que estou.<br />Tua forma com todas as delicias<br />Do inferno.<br />As veias vibram e a embriaguez<br />Retira os pés do chão.<br />E assim como viciado o suor frio<br />Vasculha o recente e remoto passado.<br /><br />Ainda floresce em cantos,<br />Ainda rompe em correntezas.<br />Tudo parece não existir mais,<br />Porém tantos são os vestígios.<br />Principalmente, o amor em ódio,<br />O leve toque das mãos<br />Que transforma-se em bofetadas.<br />O olhar profundo como pétalas<br />Que transforma-se em punhais mortais.<br />O paladar de néctar<br />Que transforma-se em fel amargo.<br />Eis as provas maiores<br />Da existência desse amor.<br /><br />E isso é tudo.<br />Juntos fizemos um desvio<br />Na rota do destino.<br />Mas nada deixa de existir<br />Os caminhos estão ali<br />Com nossas pegadas<br />Indelevelmente impressas.<br /><br />X<br /><br />Cavo teu ventre com minhas<br />Mãos rudes de lavrador<br />E os filhos que deveríamos ter<br />Estão chorando pela orfandade.<br />Já não posso evitar de virar<br />As costas e partir<br />Com o olhar de marinheiro,<br />Que deixa em cada cais<br />O amor de sua vida, e assim<br />Lamenta, mas é inevitável<br />A partida.<br /><br />Fica para traz a história<br />E surge jazigo de beijos.<br /><br />Só as silhuetas da noite<br />Retorcem em minhas mãos.<br /><br />Tenho que partir... mas...<br />Pressinto que para onde vá<br />Estarás me esperando<br />Para entregar-me o doce<br />Mel do teu sexo.<br />Pressinto o crepúsculo<br />Em cópula com a aurora.<br />Pressinto um adeus<br />Metamorfoseando em dia<br />De festa em que eu,<br />O amante pródigo,<br />Receberei o teu corpo<br />Em banquete.<br /><br />XI<br /><br />As colinas enterradas<br />Nas memórias dos séculos<br />Estão agitadas pelos passos<br />Do presente na avenida<br />Com seus habitantes gigantescos<br />De olhos e bocas retangulares.<br /><br />A luz cinza da cidade<br />Não tirou o brilho profundo<br />Contido em teu olhar<br />Que desvenda as eras mais remotas.<br /><br />Aquela cidade sentia a paz<br />E nos banhava os corpos<br />Com o mais lindo entardecer,<br />Mesmo sabendo da tua partida.<br /><br />Num momento nos disse,<br />Na respirações dos seus prédios,<br />Que prendêssemos na retina<br />Uma parte da nossa história<br />Nas calçadas da suas avenidas.<br /><br />Ficou o sol manchado<br />E na noite e no dia vejo o sofrimento<br />Dos seres metropolitanos que,<br />Naquele dia mágico, deixam<br />Escrito nas intermináveis<br />Paredes do poluído ar<br />Suas dores silenciosas.<br /><br />Passamos rapidamente<br />Com nossa paixão pulsando,<br />Mas ouvimos os soluços dos muros<br />E as esfaceladas sombras dos maltratados<br />mesmo na maior das avenidas.<br /><br />XII<br /><br />As fogueiras ainda estão acesas<br />Trepidando suas chamas ardentes<br />Que incineram a magia do sonho.<br />Dois seres malditos<br />Põem-se a descer pelas ruas<br />Lúgubres e fétidas que conduzem<br />À estação de trem onde<br />O réptil de aço serpenteia.<br /><br />Muito perto dali<br />Encontra-se o domínio<br />Dos coroados de ódio<br />Que carregam seus cetros<br />Com jóias que ferem<br />As peles do corpo e da alma.<br /><br />Olho o tato do teu rosto<br />Que olhou com meus olhos<br />Com olhos de vaga lume<br />Aceitando a direção dada<br />Pelas minhas mãos<br />Imaculadas pelas paixões<br />Que resvalam pelo teu corpo<br />Branco despoluindo<br />A cidade por onde nosso<br />Amor voltava a renascer.<br /><br />XIII<br /><br />Silêncio<br />Preso na cúpula do vácuo.<br />Te perdi outra vez na curva<br />Do espaço e do tempo.<br />Só restou o rouco orvalho<br />Dos teus cabelos,<br />E a sede nos meus lábios<br />pela secura da tua real ausência.<br /><br />Silêncio<br />Linguagem mais precisa<br />De Deus que está afogando<br />Envolto em melodias.<br />Resta-me descodificar<br />Os arcanos antigos<br />Contidos na perfeita união<br />Dos nossos corpos.<br /><br />Silêncio<br />Precipitar mantendo-se inerte<br />Cegar os olhos<br />Para ver o invisível<br />E emudecer os ouvidos<br />Para escutar as músicas das esferas.<br />Compor versos na textura<br />Da neblina do anoitecer<br />Para tornar-se um Deus.<br /><br />XIV<br /><br />Se meu canto é dor<br />A dor é mais tua<br />Que suportou o abandono,<br />Mesmo se cobrindo com<br />Areia movediça que sufocou<br />Teu grito, mas eu percebi a dor e<br />Meus versos perderam a voz.<br /><br />A tristeza é tua<br />E agitou quando teus<br />Olhos apagaram-se<br />Fugindo da luz para<br />Não retirar a mortalha que<br />Revestia o corpo do companheiro<br />Morto, que já não cabe<br />Nestas páginas de branca pureza.<br /><br />Ah,<br />Uma vastidão de tristeza aérea<br />Como um punhal alado<br />Cortando a noite<br />E expulsando os astros noturnos.<br />E a cigarra muda<br />Abandona seu canto após<br />Despedir-se do córrego encarcerado<br />No concreto da avenida,<br />Por querer se manter ao lado<br />Da flor de laranjeira<br />lançada, num dia de sol, Sobre sua margem.<br /><br />XV<br /><br />Meu sonho não deve ser visto<br />Sobre a manhã impercebida<br />Pelos primeiros pássaros.<br />Os versos que ainda componho<br />É o grito preso no vácuo<br />Ou o eco que morreu nas<br />Frestas da montanha.<br /><br />Devo dizer o último adeus<br />Com as mãos decepadas e<br />Os olhos arrancados.<br />Eu que a beijei tantas vezes<br />Em tão pouco tempo.<br />Ainda sinto<br />Tua boca úmida no prazer<br />Sob o céu infinito.<br />A lua está em sua fase<br />Minguante e eu a perdi.<br />Ao longe alguém geme<br />Em plena agonia<br />Como se faltasse apenas<br />O golpe de misericórdia.<br /><br />Ao longe<br />Minha voz procura a brisa<br />Da noite para tocar teu ouvido.<br /><br />Ah,<br />Num inicio de noite,<br />Como esta, a tive em meus braços<br />E rezei usando meus versos<br />Diante do altar do teu colo.<br />E a noite foi dia como<br />O passado foi presente.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-88715238229336345522007-12-13T16:19:00.000-08:002007-12-13T16:36:09.454-08:00A seta e o alvo(Paulinho Moska / Nilo Romero)<br /><br />Eu falo de amor à vida<br />Você, de medo da morte<br />Eu falo da força do acaso<br />E você, de azar ou sorte.<br /><br />Eu ando num labirinto<br />E você, numa estrada em linha reta<br />Te chamo pra festa<br />Mas você só quer atingir sua meta<br />sua meta.<br /><br />É a seta no alvo<br />Mas o alvo, na certa não te espera<br /><br />Eu olho pro infinito<br />E você de óculos escuros<br />Eu digo: "Te amo"<br />E você só acredita quando eu juro.<br /><br />Eu lanço minha alma no espaço<br />Você pisa os pés na terra<br />Eu experimento o futuro<br />E você só lamenta não ser o que era<br />E o que era?<br /><br />Era a seta no alvo<br />Mas o alvo, na certa não te espera<br /><br />Eu grito por liberdade<br />Você deixa a porta se fechar<br />Eu quero saber a verdade<br />E você se preocupa em não se machucar.<br /><br />Eu corro todos os riscos<br />Você diz que não tem mais vontade<br />Eu me ofereço inteiro<br />E você se satisfaz com a metade.<br /><br />É a meta de uma seta no alvo<br />Mas o alvo, na certa não te espera<br />Então me diz qual é a graça<br />De já saber o fim da estrada<br />Quando se parte rumo ao nada?Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-77508757570403674192007-12-08T18:54:00.000-08:002007-12-08T18:58:36.275-08:00Amor Amorde Sueli Costa<br /><br /><br />Quando o mar<br />Quando o mar tem mais segredo<br />Não é quando ele se agita<br />Nem é quando é tempestade<br />Nem é quando é ventania<br />Quando o mar tem mais segredo<br />É quando é calmaria.<br /><br />Quando o amor<br />Quando o amor tem mais perigo<br />Não é quando ele se arrisca<br />Nem é quando ele se ausenta<br />Nem quando eu me desespero<br />Quando o amor tem mais perigo<br />É quando ele é sincero.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-58567012684729069472007-12-07T18:37:00.000-08:002007-12-07T18:41:22.136-08:00Música linda da Fátima Guedes<strong>A vida que a gente leva</strong><br /><br /><br />Não tenho medo de nada porque vivo minha vida<br />Como quem sorve uma taça de preciosa bebida.<br />Saboreio lentamente cada hora, cada dia<br />As coisas que tão somente fazem a minha alegria.<br /><br />Eu te dou um forte abraço, eu canto, eu digo um agrado<br />Tudo pra ver teu sorriso, o teu sorriso é sagrado<br />E às vezes apenas isto é luz que dissipa a treva.<br /><strong>A gente leva da vida, amor, a vida que a gente leva.</strong>Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-75998345375033536522007-12-06T18:52:00.000-08:002007-12-06T19:26:42.099-08:00O livro do riso e do esquecimentoVou ter que postar aqui um trecho desse livro do Milan Kundera. Esse cara é uma das pessoas que mais entende a alma humana. Incrível. Pra pensar:<br /><br /><br />O que é a <em>litost</em>?<br /><br /><em>Litost</em> é uma palavra tcheca intraduzível em outras línguas. Sua primeira sílaba, que se pronuncia de maneira longa e acentuada, lembra o lamento de um cachorro abandonado. Para o sentido da palavra, procuro inutilmente um equivalente em outras línguas, embora eu tenha dificuldade de imaginar que se possa compreender a alma humana sem ela.<br /><br />Vou dar um exemplo: o estudante tomava banho com sua amiga, também estudante, no rio. A moça era esportiva, mas ele nadava muito mal. Não sabia respirar embaixo d'água, nadava devagar, a cabeça nervosamente levantada acima da superfície. A estudante estava tão irracionalmente apaixonada por ele e era tão delicada que nadava quase tão devagar quanto ele. Mas como o horário de banho estava quase na hora de acabar, ela quis dar por um instante livre<br />curso a seu instinto esportivo e dirigiu-se num <em>crawl</em> rápido à margem oposta. O estudante fez um esforço para nadar mais depressa, mas engoliu água. Sentiu-se diminuído, desmascarado na sua inferioridade física, e sentiu a <em>litost</em>. Lembrou-se de sua infância doentia, sem exercícios físicos e sem amigos, sob o olhar excessivamente afetuoso da mãe e ficou desesperado consigo mesmo e com sua vida. Ao voltarem para casa por um caminho campestre, os dois se conservaram calados. Ferido e humilhado, ele sentia um irresistível desejo de bater nela. <em>O que está acontecendo com você?,</em> perguntou ela, e ele a censurou: ela sabia muito bem que havia correntes perto da outra margem, ele a tinha proibido de nadar daquele lado, porque ela corria o risco de se afogar - e deu-lhe um tapa no rosto. A moça começou a chorar e, diante das lágrimas em seu rosto, ele sentiu pena dela, tomou-a nos braços e sua <em>litost </em>se dissipou.<br /><br />(...)<br /><br />A <em>litost</em> funciona como um motor de dois tempos. Ao tormento se segue o desejo de vingança. O objetivo da vingança é conseguir que o parceiro se mostre igualmente miserável. O homem não sabe nadar, mas a mulher que levou o tapa chora. Eles podem, portanto, se sentir iguais e perseverar em seu amor.<br /><br />Como a vingança nunca pode revelar seu verdadeiro motivo ( o estudante não pode confessar à moça que lhe bateu porque ela nada mais depressa do que ele ), a vingança tem de invocar razões falsas. A <em>litost</em> portanto nunca pode dispensar uma patética hipocrisia.Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1613290237466843706.post-34673306545610456932007-12-05T12:31:00.000-08:002007-12-05T12:39:26.795-08:00Carta de Clarice Lispector a uma amiga"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma"Lianhttp://www.blogger.com/profile/07113066699581490360noreply@blogger.com1