sábado, 25 de abril de 2009

Eu despedi o meu patrão

Zeca Baleiro


Eu despedi o meu patrão
Desde o meu primeiro emprego
Trabalho eu não quero não
Eu pago pelo meu sossego.

Ele roubava o que eu mais valia
E eu não gosto de ladrão
Ninguém pode pagar
Nem pela vida mais vazia (vadia)
Eu despedi o meu patrão.

Não acreditem
No primeiro mundo
Só acreditem
No seu próprio mundo.
É o verdadeiro
Primeiro mundo então!

Mande embora
Mande embora agora
O seu patrão.
Ele não pode pagar
O preço que vale
A tua pobre vida
Oh Meu irmão!

(Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.)

Eu despedi o meu patrão!

sexta-feira, 13 de março de 2009

O anjo mais velho

(O Teatro Mágico)

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"

Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete, a cena se inverte
Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim

E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Essas meninas

Texto do Drummond que li na época do vestibular e me abalou muito. Finalmente, com as facilidades da internet, consegui reencontrá-lo:



"As alegres meninas que passam na rua, suas pastas escolares, às vezes com seusnamorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas coisas sem importância. O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado. Riem sem motivo: riem... Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância. Faltava uma delas. O jornal dera notícias do crime. O corpo da menina encontrado naquelas condições, em lugar ermo. A selvageria de um tempo que não deixa mais rir. As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora pra outra; essas mulheres."